Um homem a construir um Estado
ZEILIG, Leo. Patrice Lumumba: Africa´s Lost Leader. London:
Haus Publishing. 2008. 182p.
Impressionam nele as ausências. Não
possuía os atributos de outros líderes do Terceiro Mundo na mesma época: faltava-lhe
a proeminência intelectual de Kwame N ´Krumah, as décadas de monasticismo clandestino
de Ho Chi Minh ou a construção organizativa de Gamal Abdel Nasser. Malgrado isso,
tornou-se o mais célebre líder da África, ao lado de Mandela.
O jornalista inglês Leo Zeilig
traça um painel geral da vida de Isaie Tasumbu Tavosa, que depois adotaria o
nome de Patrice Lumumba (1925-1961) e que sob esse nome liderou para a
independência um país conhecido hoje como República Democrática do Congo.
A Bélgica colonizou a maior parte
da bacia do grande rio Congo (também conhecido como Zaire). Fez nela também um
dos maiores genocídios da história, oprimindo a população para obter borracha e
marfim quase de graça. Isso ocorreu na virada dos séculos XIX a XX. Lumumba não
viu isso. Também por muito tempo não foi informado disso: a Bélica tinha uma
zelosa política de não permitir a educação na sua colônia, de forma que, quando
da independência em 1960, o Congo possuía menos de trinta pessoas formadas, das
quais apenas um advogado.
Diante de tão poucas
oportunidades o jovem Lumumba compensou a falta de escolas lendo por conta
própria, aperfeiçoou o francês com um curso por correspondência. E se tornou
pequeno funcionário dos correios, o que, para a colônia, não era pouca coisa. O
autor argumenta serem risíveis as acusações de comunismo: em 1958 não haveria um
só livro de Marx em todo o país.
Impressiona sua falta de preparo
teórico. E prático. Lumumba não escreveu pequenas bibliotecas de ensaios políticos,
nem gastou anos em reuniões de comitês subversivos. Ao contrário, faltando
cinco anos para a independência ainda escrevia artigos sobre a obra
civilizadora dos belgas. Presidiu sua primeira associação mais ou menos na
mesma época. E nem era exatamente uma organização política. Só se tornou
político de tempo integral três anos antes de se tornar primeiro-ministro.
As bombas atômicas jogadas no
Japão foram feitas com urânio do Congo vendido barato pelos belgas. Aos Estados
Unidos interessava pouco que essa fonte parasse na mão da União Soviética,
apesar da quase nenhuma afinidade de Lumumba com aquele regime.
Talvez por isso foram as
províncias que continham minerais as que declararam movimentos separatistas com
semanas da independência. As Nações Unidas pouco fizeram, os países africanos
menos ainda. Apoiados pela Bélgica, os rivais de Lumumba o mataram e instauraram
um regime de corrupção que atirou um país rico em minério e energia elétrica na
pobreza.
A obra traça o retrato de um
homem tentando surfar um vagalhão fora de seu controle - a transição da
dominação europeia direta para uma independência comportada. O colonialismo tudo
fez para inviabilizar um Estado unificado e apto a usar as riquezas nacionais
em benefício de seu povo. Era o sonho de Patrice Lumumba. Continua a ser um sonho
africano, e são muitos os que trabalham para que se torne real.