A Construção de uma Dependência
FERRER, Aldo. La
Economía Argentina: desde sus orígenes hasta principios del siglo XXI. Com
a colaboração de Marcelo Rougier. 4ª ed. Buenos Aires: Fondo de Cultura
Económica, 2010. 484p.
No Princípio era a Expansão Comercial
Europeia, o papel dinâmico das rotas mercantis. Depois veio a Primeira Ordem
Mundial, um sistema de produção, distribuição e apropriação de riquezas que se
espalhava por todo o mundo – com a Europa como centro. Mais terras e mais povos
entraram nesse jogo, de forma voluntária ou não. Uma dessas, na ponta da
América do Sul, ganhou futuramente o nome de Argentina – que sempre viveria entre
a dependência de centros mais dinâmicos no exterior e a luta para sair de tal
condição.
O economista argentino Aldo
Ferrer tem história: junto com o brasileiro Chico de Oliveira, talvez seja o
último representante do chamado pensamento cepalino, uma corrente de
economistas latino-americanos que nos anos 40 e 50 decidiu que era a hora da
América Latina virar seu eterno jogo – deixar de ser mera provedora de uns
poucos produtos primários e partir para a autonomia e o progresso. Seus
pioneiros congregavam-se na Cepal, a Comissão Econômica para a América Latina e
o Caribe da ONU, e seu líder foi o também argentino Raúl Prebisch, seguido de
perto pelo brasileiro Celso Furtado. Que está presente logo na introdução do
livro: o autor afirma que o enfoque que utiliza foi inspirado no que Celso
Furtado utilizou na sua Formação
Econômica do Brasil.
O autor começa explanando o
surgimento do que denomina de economias regionais de subsistência dentro do território
atualmente ocupado pela Argentina. O Império Colonial Espanhol tinha como
centro as regiões produtoras de minério. As rotas comerciais dentro dele geraram
uma frouxa especialização produtiva em regiões como Mendoza, Cuyo ou mesmo
Buenos Aires.
O livro ganha em dinamismo quando
explica a transformação desta sonolenta economia marginal em uma plenamente integrada
na divisão internacional de produção – de uma maneira dependente dos centros
europeus. Isso ocorreu quando a demanda de alguns produtos primários pela
Europa se juntou a meios de transportes mais seguros e à existência de um
excesso populacional na Europa – fatores que se conjugaram para propulsionar a
ocupação das férteis terras de origem vulcânica da província de Buenos Aires e
seu entorno para produzir lã, trigo e carne para corpos e bocas europeias.
Por algum tempo os resultados ultrapassaram
expectativas: a Argentina ostentava alta renda per capita, prédios parisienses
na capital e uma educação pública forte. No entanto a prosperidade tinha prazo
fixo – as principais decisões – de investimento e demanda - estavam fora do
controle do país.
Como de certa forma continuaram:
o autor percorre a experiência industrializante peronista, os graves problemas
econômicos das décadas de 1960 a 1980 e o desmonte do período de Menem sempre enfatizando
as dificuldades de uma economia periférica, malgrado mais ou menos breves
períodos de bonança.
A Argentina espelha o Brasil – e vice-versa.
Conhecê-la é um pouco nos conhecer. É algo que nos fica desta obra.