Enfim, um filósofo brasileiro
Paulo Avelino
FARIAS BRITO, Raymundo de. A Base Física do Espírito. Brasília:
Senado Federal, 2006. 334p. (Edições do Senado Federal, volume 53.)

Farias Brito nasceu em 1862 na
pequena São Benedito, no Ceará. Estudou Direito na Escola do Recife, tomada por
estudantes positivistas e materialistas - as correntes europeias que modulavam
o pensamento da época. Formado, voltou para o Ceará, onde foi promotor público
e professor. Em 1902 migrou para a próspera Belém da época da borracha, na qual
ensinou e viveu sete anos. Finalmente transferiu-se para o Rio, onde assumiu a
cadeira de lógica do Colégio Pedro II depois do assassinato do titular Euclides
da Cunha. Viveu na então capital federal até sua morte.
A par dessa atividade pedagógica
e burocrática, Farias Brito lia. E lia massivamente. Até mesmo os adversários no
pensamento reconheciam que Farias Brito lera quase tudo o que se escrevera
sobre filosofia nos três séculos anteriores.
Dessa massa de conhecimento
coerentizada por um propósito central nasceu sua obra. E o propósito era moral.
Para Farias, o objetivo da Filosofia é orientar como de viver a vida: se não sei o que sou, nem para que vim ao
mundo, não posso saber uma norma de conduta.
Em busca por esta lei moral Farias
escreveu muitas obras. Publicou A Filosofia
como Atividade Permanente do Espírito com 32 anos de idade, e não parou
mais. Seguiram-se entre outras a Filosofia
Moderna (1899), A Verdade como Regra
das Ações (1905) e O Mundo Interior (1914).
Publicou A Base Física do Espírito em 1912, um amplo tratado sobre a
evolução dos estudos psicológicos nos séculos anteriores. Farias dava não pouca
importância à Psicologia. Para ele a Filosofia era paixão do conhecimento, e
sua obra era uma tentativa de resolver os problemas da Filosofia através da
Psicologia Transcendente, ou seja, a que fica em uma esfera superior à
experiência e que não pode ser atingida pela experiência.
Segundo Farias, a crise do
pensamento filosófico surgira desde as obras de René Descartes e Francis Bacon.
Estas iniciaram as primeiras dúvidas sobre as condições do conhecimento humano
– e sobre sua possibilidade. Antes, acreditava-se que o homem podia saber
perfeitamente as coisas fora de si. A filosofia depois deles questionou isso, o
que culminou na obra cética de David Hume, para o qual os fenômenos do espírito
são simplesmente impressões de nossa sensibilidade e não se ligam a qualquer
substrato permanente, bem dentro nem fora de nós.
Essa crítica dissolvente, para
Farias, originou o criticismo kantiano e o positivismo, noções nas quais ele
reconhece méritos, porém que no todo considera responsáveis pela confusão do
mundo contemporâneo.
Raimundo de Farias Brito mostrou
que é possível fazer uma obra universal, aqui no Brasil, em Fortaleza ou Belém,
mesmo antes da Internet e das livrarias online.
Pois o cérebro humano transcende fronteiras.