WOLFF, Michael. The Fire and the
Fury: inside the Trump White House. Edição Kindle, 2018. 321p.
Paulo
Avelino
O fogo e fúria da Casa Branca caíram
sobre este livro logo nos primeiros dias de 2018. Temendo que problemas legais
pudessem impedir seu lançamento, a editora estadunidense antecipou-o para o dia
5 de janeiro, uma sexta-feira. Logo nas primeiras 48 horas o livro alcançou o
topo.
Michael Wolff entrou o ano como
virtualmente desconhecido. Terminou a sua primeira semana como celebridade
mundial. Pelo que se vê na imprensa dos EUA, o jornalista nova-iorquino era
mais conhecido como jornalista ligado à mídia e a celebridades, com um modo
muito pessoal de escrever e ligado aos meios liberais, algo como um Truman Capote
meio século depois e sem o mesmo charme.
Isso se reflete em seu livro. Segundo
o próprio autor, o Fogo e a Fúria veio da possibilidade que a própria Administração
Trump deu a ele – a de estar presente de forma costumeira na Casa Branca, a
falar com uns e outros, registrando ou não as conversas, sem se tratar de
entrevistas formais.
Trata-se portanto de livro de
testemunhos e opiniões, de pessoas que lidam com Trump, sobre Trump e sobre si
mesmos. Estilisticamente a obra segue os preceitos básicos do non-fiction estadunidense: a narração meio
romanesca, a ênfase no suspense, a personalização dos fatos, no sentido de
evitar grandes explicações econômicas e políticas. O resultado impacta.
O Fogo e a Fúria pode ser
dividido em duas grandes partes. Na primeira Michael Wolff faz suas grandes
revelações sobre Trump e sua equipe, razão pela qual as manchetes dos jornais
sobre o livro se referiram basicamente a esta parte. O Presidente não queria
ser eleito. Não gosta de ler. Não consegue concentrar-se por muito tempo em um
assunto. Tem medo de morrer envenenado. E para um homem tão rico, tem preferências
culinárias bem simplórias – gosta de cheeseburgers de fast-food.
A segunda parte desenvolve a
primeira de uma forma cronológica nos primeiros meses da nova administração, a
mostrar como a equipe e o presidente lidaram com cada crise – e elas foram
muitas. Esta parte é mais árida, e exige mais conhecimento da política
estadunidense.
A equipe de Trump tem criticado a
obra. Tendo em vista o formato de livro de testemunhos quase sempre informais, não
é de surpreender se parte dele se relevar impreciso. Ainda assim o Fogo e a
Fúria assusta. De como pessoas tão medíocres, sem um plano definido, sem nenhuma
grandeza política ou pessoal, sem nem mesmo muita cultura pudessem reunir tanto
poder. A obra abala uma das crenças mais definidas que nós, que não temos
poder, possuímos: a de que as pessoas que têm Poder o têm por alguma espécie de
mérito. Muitos da equipe da Casa Branca lá estão apenas porque circulavam nos
lugares certos com as pessoas certas, e mesmo essas pessoas certas só se
tornaram assim porque por acaso venceram uma eleição que a maioria dava por
perdida. Inclusive eles mesmos.
O Fogo e a Fúria tem suas
limitações. Mas choca e revela – que é o que se propunha a fazer.