terça-feira, 29 de abril de 2025

As Aventuras de Pinóquio, de Carlo Collodi

 Filosofias de Pinóquio

Paulo Avelino

COLLODI, Carlo. As Avent
uras de Pinóquio: A história de um boneco. Jandira, SP: Ciranda Cultural, 2022. 240p. Tradução de Beatriz Camacho.

SOBRE POLÍTICA SALARIAL:

- E o que ele faz da vida?

- É pobre.

- Ganha muito?

- Ganha o necessário para não ter um tostão no bolso. (p66)

SOBRE PEDAGOGIA E MEDICINA:

- Sim. Porque quero ir à escola e estudar com afinco.

 - Olhe para mim! – falou a raposa.  – Por essa paixão estúpida pelos estudos eu perdi uma perna.

- Olhe para mim – falou o gato. - Por essa paixão estúpida pelos estudos eu perdi a vista dos dois olhos. (p68)

SOBRE TOPONÍMIA:

- E para onde querem me levar?

- Para a Vila dos Tolos. (p69)

SOBRE MEDICINA LEGAL:

- Ao meu ver, o boneco está morto de vez, mas, se por alguma desgraça não estiver totalmente morto, então será um bom indício de que ainda está vivo!

- Sinto muito – disse a Coruja – em ter de contradizer o Corvo, meu ilustre amigo e colega, mas, para mim, o boneco ainda está vivo. Mas, se por alguma desgraça não estiver vivo, então será um sinal de que está realmente morto. (p93)

AINDA SOBRE TOPONÍMIA:

Depois de terem caminhando por quase meio dia, chegaram a uma cidade chamada Pega-Trouxa. (p105)

SOBRE DEFICIT INTELECTUAL:

- Afinal – gritou Pinóquio, raivosamente -, posso saber do quer você tanto ri, Papagaio mal-educado?

- Eu rio daqueles trouxas que acreditam em qualquer asneira e que se deixam enganar por quem é mais esperto do que eles.

- Está falando de mim, por acaso?

- Estou, pobre Pinóquio. (p110)

SOBRE DIREITO PENAL E O SENTIDO DA VIDA:

- Se os outros estão saindo da prisão, eu também quero sair – disse Pinóquio ao carcereiro.

- Você, não – respondeu o carcereiro -, pois é irrelevante...

- Peço desculpas – replicou Pinóquio -, mas eu também sou um ladrão.

- Neste caso, você tem razão. (p112)

SOBRE COMBATE À DESNUTRIÇÃO:

- Mas veja só! – respondeu o boneco, ofendido. – Para seu governo, eu nunca fui burro de carga. Eu nunca puxei carroça!

- Melhor para você! – respondeu o carvoeiro. – Então, garoto, se você está mesmo morrendo de fome, coma duas belas fatias de sua soberba e cuidado para não ter uma indigestão. (p140)

SOBRE ENSINO:

- Mas por que você está preocupado com a escola? Vamos para a escola amanhã. Com uma aula a mais ou a mesmo, continuaremos burros do mesmo jeito. (p150)


quinta-feira, 2 de janeiro de 2025

A Grande História da Bélgica, de Patrick Weber

Um pequeno país europeu

Paulo Avelino

WEBER, Patrick. La Grande Histoire de la Belgique. Paris: Editions Perrin, 2016. 426p.



Poderia ser um best-seller: Maria aos 20 anos descobriu que seu pai morreu, deixando na mão da filha única um pedaço das terras mais ricas da Europa. Morte violenta e previsível: o pai de Maria era tão briguento que passou a ser conhecido como Carlos o Temerário. Maria herdou o título de Duquesa de Borgonha e um abacaxi dos diabos. Seu pai, o guerreiro, e seu avô Felipe, este uma raposa política, passaram suas vidas a defender suas terras dos vizinhos, o Imperador Germânico e o Rei da França. Maria não tinha muitas armas para se defender mas tinha um trunfo: ela mesma. Ofereceu-se em casamento a outro rico herdeiro, Maximiliano, o mais velho da poderosa família austríaca dos Habsburgo. Em 1477 casaram-se. Só que ao contrário do que se poderia imaginar Maria e Maximiliano realmente se gostavam e fizeram um casamento feliz. Seu neto seria Carlos V, o homem mais poderoso da Terra, e seu bisneto seria Felipe II, rei da Espanha e Portugal, que também reinaria sobre o Brasil.

Patrick Weber faz parte de uma geração que pouco tem em comum com o velho historiador livresco de antigamente. Multimídia, escreve livros de história, apresenta programas de TV, desenha histórias em quadrinhos, faz romances policiais e é além de tudo o cronista oficial da família real da Bélgica. A necessidade de síntese e de uma escrita que prenda o leitor se faz sentir pelas páginas desse pequeno volume que abrange a história do país europeu desde o paleolítico.

A Bélgica como país existe apenas desde 1830. Contudo o autor faz grande esforços para ver nessa história uma continuidade desde a Idade Média, com o surgimento do Condado de Flandres e do Ducado de Brabante, origem longínqua da divisão da Bélgica atual entre uma população que fala francês e uma que fala neerlandês. Trata-se de história em grande parte gêmea com o de seu vizinho do Norte, conhecido como Holanda. Aliás foi Felipe, avô de Maria, quem pela primeira vez dividiu seus domínios em Países do Alto, ao Sul, e Países Baixos, esses equivalentes às atuais Bélgica e Holanda. E o nome pegou.

Depois de sua independência a Bélgica cresceu como eixo industrial, com a mais densa rede ferroviária do continente, grandes depósitos de carvão e uma população de trabalhadores mal pagos, o que gerava grandes lucros. Lucros que impulsionaram a expansão para a África, para o Congo, que fizeram Colônia, no qual ocorreram atrocidades inimagináveis no processo de exploração da população local, especialmente no período de 1885 até 1908, sob o rei Leopoldo II. Outro ponto alto da obra é o reinado de Alberto I, o rei soldado e alpinista, que morreu despencado de uma montanha e visitou o Brasil.

O livro enfatiza a grande história política e não se aprofunda nos subterrâneos da sociedade, particularmente sobre as condições de vida dos que não eram reis ou ministros. Mas se trata de uma boa introdução à relativamente pouco conhecida história do pequeno e importante país europeu.