Leões da Guerra
JANNEN Jr.,
William. The Lions of July: prelude
to war, 1914. Novato, Califórnia, EUA: Presidio
Press, 1996. 456p.
Foi a mais previsível das
catástrofes, e no entanto todos os envolvidos depois se declararam
surpreendidos por ela. Indústrias especializadas; planos estabelecidos com
cronogramas com precisão de dias ou horas; alianças estabelecidas em tempos de
paz para ameaçar outros países com uma guerra total e assim preservar a paz; tudo
feito para o que o outro lado cedesse na última hora. E ninguém cedeu. Esta é a
história que este livro tenta desvendar.
O centenário em 2014 do início da
Primeira Guerra Mundial provocou uma vaga de livros sobre o desencadeamento do
conflito. Esta obra do advogado e historiador não profissional William Jennen
Jr. precede esse movimento editorial. Trata-se, no entanto, de estudo bem acima
da média. O autor enfoca a cena alternadamente nos vários lugares em que o
drama se situou, Viena, Londres, Berlim, Paris, São Petersburgo. E o leitor em
pouco se familiariza com embaixadores e generais hoje esquecidos, mas
fundamentais para a tragédia.
O livro começa devagar, como de
resto o próprio evento. Apenas mais um assassinato real: um príncipe não muito
popular resolveu fazer uma viagem a uma obscura província em um canto da
Europa, desafiando rumores de assassinato. Um grupo de garotos sem raízes e sem
futuro conspirava para concretizar os rumores. E no dia 28 de junho de 1914 o
Arquiduque Francisco Ferdinando arriscou-se a viajar a Sarajevo, capital da recém-anexada
região da Bósnia, anexada pela Áustria-Hungria, a monarquia da qual era sucessor.
Um dos garotos aproveitou-se de uma manobra desastrada do automóvel real e
enfiou algumas balas.
Seguiu-se uma correia dentada: a
Áustria-Hungria culpou a Sérvia do assassinato. A Rússia czarista ameaçou
apoiar a Sérvia, em caso, de guerra. A Áustria-Hungria tinha a aliança da Alemanha.
A Rússia era aliada da França. E França e Rússia tinham a simpatia da
Inglaterra.
Todos esses países já tinham
planos de guerra feitos havia décadas, exércitos enormes (com exceção da
Inglaterra) e rígidos cronogramas que sempre envolviam se antecipar ao inimigo.
Grande parte do livro narra os esforços de diplomatas e políticos subitamente
assustados diante da perspectiva de uma guerra europeia generalizada,
pressionados pelo tempo e pelos cronogramas rígidos que seus próprios Estados
estabeleceram. Ao leitor os esforços, temores e insensatez de personagens como
o Imperador alemão Guilherme II, o Czar Nicolau II e o primeiro-ministro da
Áustria-Hungria Conde Berchtold naquele Julho de 1914 parecem a um só tempo grandiosos e patéticos.
O livro não explica e dificilmente
algum livro poderá explicar porque cerca de dez milhões de rapazes morreram. Na
prática todos os países perderam a guerra, tamanhos os prejuízos financeiros e
políticos, por isso ninguém quis se dizer responsável por ela. No entanto
descreve bem as negociações, as esperanças e as manobras dos principais
envolvidos. Que resultaram numa guerra na qual, apesar de tudo, nenhum deles
lutaria diretamente, o que talvez ajude a explicar seu fracasso em preveni-la.