segunda-feira, 15 de fevereiro de 2016

Os Leões de Julho, de William Jennen Jr.

Leões da Guerra

JANNEN Jr., William. The Lions of July: prelude to war, 1914.  Novato, Califórnia, EUA: Presidio Press, 1996. 456p.

Foi a mais previsível das catástrofes, e no entanto todos os envolvidos depois se declararam surpreendidos por ela. Indústrias especializadas; planos estabelecidos com cronogramas com precisão de dias ou horas; alianças estabelecidas em tempos de paz para ameaçar outros países com uma guerra total e assim preservar a paz; tudo feito para o que o outro lado cedesse na última hora. E ninguém cedeu. Esta é a história que este livro tenta desvendar.

O centenário em 2014 do início da Primeira Guerra Mundial provocou uma vaga de livros sobre o desencadeamento do conflito. Esta obra do advogado e historiador não profissional William Jennen Jr. precede esse movimento editorial. Trata-se, no entanto, de estudo bem acima da média. O autor enfoca a cena alternadamente nos vários lugares em que o drama se situou, Viena, Londres, Berlim, Paris, São Petersburgo. E o leitor em pouco se familiariza com embaixadores e generais hoje esquecidos, mas fundamentais para a tragédia.

O livro começa devagar, como de resto o próprio evento. Apenas mais um assassinato real: um príncipe não muito popular resolveu fazer uma viagem a uma obscura província em um canto da Europa, desafiando rumores de assassinato. Um grupo de garotos sem raízes e sem futuro conspirava para concretizar os rumores. E no dia 28 de junho de 1914 o Arquiduque Francisco Ferdinando arriscou-se a viajar a Sarajevo, capital da recém-anexada região da Bósnia, anexada pela Áustria-Hungria, a monarquia da qual era sucessor. Um dos garotos aproveitou-se de uma manobra desastrada do automóvel real e enfiou algumas balas.

Seguiu-se uma correia dentada: a Áustria-Hungria culpou a Sérvia do assassinato. A Rússia czarista ameaçou apoiar a Sérvia, em caso, de guerra. A Áustria-Hungria tinha a aliança da Alemanha. A Rússia era aliada da França. E França e Rússia tinham a simpatia da Inglaterra.

Todos esses países já tinham planos de guerra feitos havia décadas, exércitos enormes (com exceção da Inglaterra) e rígidos cronogramas que sempre envolviam se antecipar ao inimigo. Grande parte do livro narra os esforços de diplomatas e políticos subitamente assustados diante da perspectiva de uma guerra europeia generalizada, pressionados pelo tempo e pelos cronogramas rígidos que seus próprios Estados estabeleceram. Ao leitor os esforços, temores e insensatez de personagens como o Imperador alemão Guilherme II, o Czar Nicolau II e o primeiro-ministro da Áustria-Hungria Conde Berchtold naquele Julho de 1914 parecem a um só tempo grandiosos e patéticos.

O livro não explica e dificilmente algum livro poderá explicar porque cerca de dez milhões de rapazes morreram. Na prática todos os países perderam a guerra, tamanhos os prejuízos financeiros e políticos, por isso ninguém quis se dizer responsável por ela. No entanto descreve bem as negociações, as esperanças e as manobras dos principais envolvidos. Que resultaram numa guerra na qual, apesar de tudo, nenhum deles lutaria diretamente, o que talvez ajude a explicar seu fracasso em preveni-la.

Nenhum comentário:

Postar um comentário