Histórias em uma Tragédia
LARSON,
Erik. A Última Viagem do Lusitânia. Lisboa: Bertrand editora, 2015. 463p.
Tradução de Raquel Dutra Lopes.
Paulo
Avelino
O Lusitânia zarpou do porto de
Nova Iorque no dia primeiro de Maio de 1915. Destinava-se à Inglaterra. Nunca
chegou lá. Um navio, um submarino, uma série de acasos. E de quebra, milhares
de vidas. Esta é a história que o escritor estadunidense especializado em
não-ficção Erik Larson nos contra neste livro best-seller.
Em uma era de grandes navios o
Lusitânia conseguia ser maior que quase todos, quase do mesmo tamanho que o Titanic,
que afundara três anos antes. Não era uma boa época para navegar. A Primeira
Guerra Mundial começara dez meses antes e se radicalizava – a Grã-Bretanha e o
Império Alemão bloqueavam-se um ao outro pelo mar, procurando impedir o
comércio. Por sua desvantagem em navios de superfície, o Comando Alemão apelava
para uma arma nova – o Submarino.
Nova e mortal – os submarinos na
época eram tão desajeitados que, quando um torpedo era disparado, o navio
ficava subitamente leve em uma das pontas e os marinheiros precisavam correr
para lá para fazer peso. E eram tão pequenos que só levavam sete torpedos. Apesar
disso um só submarino era suficiente para afundar navios e mais navios em uma
só rota. Dificilmente se podia saber onde estavam.
No dia 30 de abril uma outra
embarcação partia, dessa vez de um porto militar alemão. O submarino U-20 tinha
uma missão simples: afundar o que achar que devesse ser afundado em volta da
costa da Grã-Bretanha. Comandava-o o capitão-tenente Walther Schwieger, de 32
anos, e uma pessoa doce, que “não mataria uma mosca”.
Os comandantes de submarino
tinham muito mais poder que sua pouca idade lhes dava. As comunicações com o
Comando Geral eram intermitentes. Quando próximos do inimigo submergiam e a
partir daí todo conhecimento vinha de um periscópio, com uma visão estreita, que
quase só o comandante usava, e que nem podia ser usado por muito tempo –
deixava um rastro facilmente detectável. O resultado era que um jovem isolado
no mar podia tomar a decisão de afundar ou não um navio cheio de civis,
incluindo mulheres e crianças.
O livro conta a história do
navio, do submarino que o acertou e também de pessoas em volta do drama, como a
de certo senhor que pouco antes comparecera a um culto protestante e pedira às
pessoas que o deixassem a sós. A sós com o caixão da esposa. Eles dificilmente
poderiam lhe negar algo – era o presidente dos Estados Unidos, Thomas Woodrow Wilson.
Meses depois sua prima o apresentou a uma amiga, uma viúva de 42 anos, Edith
Galt. Foi uma paixão de cavalheiro por dama, de cartas contidas e passeios por
jardins. Casar-se-iam depois.
A Última Viagem do Lusitânia vai
no rastro da tendência da não ficção de ocupar um lugar anteriormente dos
romances – a suspense, a emoção, os enredos envolventes, está tudo lá. Nele não
se espere uma análise historiográfica, mas uma série de histórias bem contadas,
entrelaçadas por um acontecimento. Emociona e convida a virar suas páginas – o que,
suponho, era seu objetivo.