terça-feira, 15 de outubro de 2013

Nasser, o Último Árabe, de Said K. Aburish

Na encruzilhada - Nasser


ABURISH, Said K.
Nasser – the Last Arab. New York: Thomas Dunne, 2004. 355p.

Gamal Abdel Nasser nasceu numa aldeia do delta do Nilo, tomou em um golpe o poder no Egito e só saiu dele dezoito anos depois, diabético, puxando de uma perna e enfartado em 1970. Li esta obra menos interessado no antigo presidente egípcio do que no Egito atual – entalado em uma revolução que parece não chegar a lugar algum.

O veterano jornalista egípcio Said K. Aburish escreveu uma biografia política: diz pouco sobre a infância e juventude do personagem, e de sua vida pessoal nada informa além de que era bem casado, amava os filhos e tinha uma saúde catastrófica.

Nasser galvanizou o nacionalismo árabe – a ideia de que a língua pode servir de ponto de união para pessoas que ocupam uma faixa no Planeta que vai do Golfo Pérsico até o Oceano Atlântico. O livro pode ser visto como uma tentativa de compreender o fracasso desta ideia, suplantada pelo islamismo político. No centro dessa encruzilhada ideológica, Nasser.

Líder de um movimento de oficiais com ideias tão bem-intencionadas quanto confusas, tomou o poder em 1952. [Um de seus subordinados depois ganharia notoriedade, o major Anwar El Sadat, que tem a antipatia do autor]. Fez a reforma agrária em um país em que poucos paxás monopolizavam grandes nacos de terra. Barrou o rio Nilo em Assuã para possibilitar irrigação. E acima de tudo usou o rádio. Pelas emissoras oficiais pregava a unidade dos árabes.

Traçadas por franceses e ingleses ao fim da Primeira Guerra, as fronteiras árabes abrigavam países frágeis dominados por oligarquias dependentes das grandes potências, e tanto as oligarquias quanto as potências desconfiavam daquela voz – Iraque e Arábia Saudita à frente.  Havia também Israel, pequeno país dividido entre um grupo de poder que queria paz com os vizinhos e outro que queria a guerra – com a vitória deste último.

O livro relata bem o surgimento das duas forças políticas do Egito de hoje. De um lado a Irmandade Muçulmana – movimento de direita que nunca teve problemas de fazer acordos com os britânicos ou com qualquer imperialismo – e de outro, o exército. Nasser achou uma maneira de não ser derrubado – deixou o exército a cargo de seu melhor amigo e se retirou dele. O Coronel Amer transformou o exército em uma máquina de negócios pouco lícitos, dominado por oficiais mais interessados em festinhas com haxixe liberado e atrizes bonitas. Claro que o desempenho em guerras era pífio, tendo perdido as de 1956 e 1967.

Aburish não se aprofunda muito no programa nasserista de substituição de importações, nem na breve discussão da identidade egípcia (se mediterrânea, árabe ou islâmica), e nem porque a partir dos anos 50 os EUA, ao substituírem ingleses e franceses, escolheram um apoio quase incondicional a Israel como eixo.


O Oriente Médio e o Egito quase sempre aparecem nos noticiários, nem sempre por belas razões. Para compreendê-los, esse livro ajuda.

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