Na encruzilhada - Nasser
Gamal Abdel Nasser nasceu numa aldeia
do delta do Nilo, tomou em um golpe o poder no Egito e só saiu dele dezoito
anos depois, diabético, puxando de uma perna e enfartado em 1970. Li esta obra menos
interessado no antigo presidente egípcio do que no Egito atual – entalado em
uma revolução que parece não chegar a lugar algum.
O veterano jornalista egípcio
Said K. Aburish escreveu uma biografia política: diz pouco sobre a infância e
juventude do personagem, e de sua vida pessoal nada informa além de que era bem
casado, amava os filhos e tinha uma saúde catastrófica.
Nasser galvanizou o nacionalismo
árabe – a ideia de que a língua pode servir de ponto de união para pessoas que
ocupam uma faixa no Planeta que vai do Golfo Pérsico até o Oceano Atlântico. O
livro pode ser visto como uma tentativa de compreender o fracasso desta ideia, suplantada
pelo islamismo político. No centro dessa encruzilhada ideológica, Nasser.
Líder de um movimento de oficiais
com ideias tão bem-intencionadas quanto confusas, tomou o poder em 1952. [Um de
seus subordinados depois ganharia notoriedade, o major Anwar El Sadat, que tem
a antipatia do autor]. Fez a reforma agrária em um país em que poucos paxás
monopolizavam grandes nacos de terra. Barrou o rio Nilo em Assuã para
possibilitar irrigação. E acima de tudo usou o rádio. Pelas emissoras oficiais pregava
a unidade dos árabes.
Traçadas por franceses e ingleses
ao fim da Primeira Guerra, as fronteiras árabes abrigavam países frágeis
dominados por oligarquias dependentes das grandes potências, e tanto as
oligarquias quanto as potências desconfiavam daquela voz – Iraque e Arábia
Saudita à frente. Havia também Israel,
pequeno país dividido entre um grupo de poder que queria paz com os vizinhos e
outro que queria a guerra – com a vitória deste último.
O livro relata bem o surgimento das
duas forças políticas do Egito de hoje. De um lado a Irmandade Muçulmana –
movimento de direita que nunca teve problemas de fazer acordos com os
britânicos ou com qualquer imperialismo – e de outro, o exército. Nasser achou
uma maneira de não ser derrubado – deixou o exército a cargo de seu melhor
amigo e se retirou dele. O Coronel Amer transformou o exército em uma máquina
de negócios pouco lícitos, dominado por oficiais mais interessados em festinhas
com haxixe liberado e atrizes bonitas. Claro que o desempenho em guerras era
pífio, tendo perdido as de 1956 e 1967.
Aburish não se aprofunda muito no
programa nasserista de substituição de importações, nem na breve discussão da
identidade egípcia (se mediterrânea, árabe ou islâmica), e nem porque a partir
dos anos 50 os EUA, ao substituírem ingleses e franceses, escolheram um apoio
quase incondicional a Israel como eixo.
O Oriente Médio e o Egito quase
sempre aparecem nos noticiários, nem sempre por belas razões. Para compreendê-los,
esse livro ajuda.
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