quarta-feira, 11 de junho de 2014

Uma Linha na Areia, de James Barr

A difícil construção do Estado no Oriente Médio


BARR, James. A Line in the Sand: Britain, France and the struggle that shaped the Middle East. 6ª ed. London: Simon and Schuster, 2012. 454p.

Duas superpotências, uma fogueira de vaidades e a história [e tragédia] de cinco Estados-nação – isso sintetiza o novo livro do autor britânico especializado em Oriente Médio James Barr. O autor de Pondo Fogo no Deserto: T. E. Lawrence e a Guerra Secreta Britânica na Arábia 1916-1918 segue adiante e, após cobrir o período da Primeira Guerra Mundial, foca os acontecimentos entre 1918 e 1948.

Editores, jornalistas free-lancer, até historiadores amam inundar o mercado de matéria escrita sobre o Oriente Médio. A presença de Iraque, Israel e Egito nos noticiários garante um público interessado. Personagens como Winston Churchill e Thomas Edward Lawrence (o Lawrence da Arábia), e Charles de Gaulle, para não falar de Gamal Abdel Nasser e Lloyd George, trazem um toque de exotismo às narrativas. Para James Barr, os autores se concentram nas duas conflagrações mundiais, esquecendo que o que se passou entre elas importa. É o que se propõe a fazer neste livro.

Durante a Primeira Guerra Mundial a Grã-Bretanha governava um quarto do mundo. Atrás dela, mas não muito, a República francesa. Essas duas superpotências aliadas e inimigas lutavam contra outra potência, a Alemanha, coligada esta ao velho Império Otomano. As duas primeiras apoiavam os árabes, um povo que tivera seu tempo de glória um milênio antes, e agora os turcos os dominavam.

Isso para fins de propaganda. Secretamente França e Grã-Bretanha engendraram um acordo sobre a Arábia sem ter a delicadeza de ouvir quem morava lá. Passou à história pelo nome dos funcionários que o assinaram, Sykes-Picot. Dividiram o deserto ao meio por uma linha quase reta (a tal linha da qual fala o título), que pode ser vista até hoje como fronteira entre Síria, Iraque e Jordânia.

Esse acordo e a subsequente política de dois países, um querendo tomar mais território e influência que o outro durante três décadas moldaram aquela parte do globo. Dele saíram cinco Estados-nação: Israel, Síria, Iraque, Jordânia, e Líbano, com populações heterogêneas, pouca tradição de autogoverno, e com os complicadores do choque religioso e da presença dos interesses do petróleo. As potências realizaram uma política de apoiar (e às vezes armar) as minorias da região uma contra a outra, o que gerou dramas renitentes, como o choque entre o Estado judeu e os palestinos.

Como quase todos os livros de jornalismo histórico modernos a obra de Barr privilegia detalhes romanescos, como a personalidade fulgurante de certos protagonistas, em vez de fatores subjacentes, especialmente econômicos. Estes só são mencionados ocasionalmente, como quando revela que a economia da Síria era quase totalmente dominada pelos franceses, ou narra a construção de um oleoduto conduzindo o petróleo iraquiano para o Mediterrâneo, exatamente quando a Grã-Bretanha transformara sua esquadra de carvão para óleo.

A obra constitui leitura interessante para os aficionados no assunto e pode contribuir para esclarecer uma parte dos problemas e soluções de uma região importante do mundo.

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