terça-feira, 15 de julho de 2014

Canhões de Agosto, de Bárbara Tuchman

O Mês Interminável


Canhões de Agosto, de Bárbara Tuchman
         TUCHMAN, Bárbara. Canhões de Agosto. Rio de Janeiro: Objetiva, 1994. 510p.

A própria autora tem participação no livro – discretíssima. Refere-se a um interrogatório ao qual alguns embaixadores teriam submetido a filha do representante estadunidense no Império Otomano, Mr. Henry Mongenthau. Esta filha se encontrava com seus três filhos. Um deles era a que viria a escrever a obra.

Bárbara Morgenthau Tuchman escreveu este livro sobre o primeiro mês da Primeira Guerra Mundial. A ocasião era propícia: a guerra estava então prestes a celebrar cinquenta anos. Agora que se encontra na celebração do centenário, o mercado editorial do Primeiro Mundo inunda as prateleiras de obras sobre o assunto. A maior parte não muito elucidativa: nomes como Viviani, Sazonov, Berchtold, Bethman-Hollweg, Lloyd George, Moltke e Joffre se repetem com monótona insistência. E nem isto os salva de serem poeira de história.

O Clássico Os Canhões de Agosto ajudou a inaugurar os livros históricos agradáveis de ler, um gênero que hoje virtualmente expulsou os romances do imaginário público. Tem bem mais rigor que muitos de seus sucessores, é verdade. Cautelosa, a autora evita discorrer sobre as causas da guerra. Na primeira parte se refere aos Planos – o que dá o tom do resto da obra, que se prende rigorosamente ao factual. Evita o pântano das disputas ideológicas.

Escreve muito bem. Cada personagem é precedido de uma descrição de sua vida e hábitos, de forma que pensamos até vê-los. Não é pouco, considerando que a maior parte dos protagonistas é de cinzentos generais e de escorregadios diplomatas – e que quase nenhum primava pelo brilho. Se assim o fosse, não se teriam deixado levar quase passivamente por uma engrenagem que mataria milhões – mas não  a eles mesmos – engrenagem essa que ajudaram a criar.

Depois dos planos aborda os dois últimos dias de julho e cinco primeiros dias de agosto de 1914, durante a qual choveram ameaças e declarações de guerra. Trata-se da parte mais repisada deste drama, aquela em que mais aparecem os hoje obscuros personagens já referidos. A autora foi das primeiras a mergulhar neste mar de telegramas de Estado e notas sobre reuniões em chancelarias.

Depois do fracasso dos diplomatas, descreve as batalhas, talvez a parte mais interessante. Ao contrário da quase totalidade dos autores, Bárbara não se confina ao que ocorreu na fronteira entre França, Bélgica e Alemanha.  Revela cantos hoje pouco visitados do drama, como o bombardeio da Sérvia, a terrível batalha de Tannenberg e o incidente dos navios Goeben e Breslau – do qual a mãe da autora participou de forma menor.

O enredo converge para a chamada batalha do Marne – um rio próximo de Paris, afluente do Sena, perto do qual os soldados alemães tiveram de recuar. Estavam exaustos de virem a pé desde seu país. Segundo a autora, isso não determinou o resultado da guerra - mas determinou que não seria rápida.

Trata-se de um livro que já passou pelo teste do tempo e constitui uma agradável e rigorosa introdução para quem quer saber sobre o grande conflito.

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