O Mês Interminável
TUCHMAN,
Bárbara. Canhões de Agosto. Rio
de Janeiro: Objetiva, 1994. 510p.
A própria
autora tem participação no livro – discretíssima. Refere-se a um interrogatório
ao qual alguns embaixadores teriam submetido a filha do representante
estadunidense no Império Otomano, Mr. Henry Mongenthau. Esta filha se
encontrava com seus três filhos. Um deles era a que viria a escrever a obra.
Bárbara Morgenthau
Tuchman escreveu este livro sobre o primeiro mês da Primeira Guerra Mundial. A
ocasião era propícia: a guerra estava então prestes a celebrar cinquenta anos. Agora
que se encontra na celebração do centenário, o mercado editorial do Primeiro
Mundo inunda as prateleiras de obras sobre o assunto. A maior parte não muito
elucidativa: nomes como Viviani, Sazonov, Berchtold, Bethman-Hollweg, Lloyd
George, Moltke e Joffre se repetem com monótona insistência. E nem isto os
salva de serem poeira de história.
O Clássico Os Canhões de Agosto ajudou a inaugurar
os livros históricos agradáveis de ler, um gênero que hoje virtualmente expulsou
os romances do imaginário público. Tem bem mais rigor que muitos de seus
sucessores, é verdade. Cautelosa, a autora evita discorrer sobre as causas da
guerra. Na primeira parte se refere aos Planos – o que dá o tom do resto da
obra, que se prende rigorosamente ao factual. Evita o pântano das disputas
ideológicas.
Escreve muito
bem. Cada personagem é precedido de uma descrição de sua vida e hábitos, de
forma que pensamos até vê-los. Não é pouco, considerando que a maior parte dos
protagonistas é de cinzentos generais e de escorregadios diplomatas – e que quase
nenhum primava pelo brilho. Se assim o fosse, não se teriam deixado levar quase
passivamente por uma engrenagem que mataria milhões – mas não a eles mesmos – engrenagem essa que ajudaram
a criar.
Depois dos
planos aborda os dois últimos dias de julho e cinco primeiros dias de agosto de
1914, durante a qual choveram ameaças e declarações de guerra. Trata-se da
parte mais repisada deste drama, aquela em que mais aparecem os hoje obscuros
personagens já referidos. A autora foi das primeiras a mergulhar neste mar de
telegramas de Estado e notas sobre reuniões em chancelarias.
Depois do
fracasso dos diplomatas, descreve as batalhas, talvez a parte mais interessante. Ao contrário da quase totalidade dos autores, Bárbara não se
confina ao que ocorreu na fronteira entre França, Bélgica e Alemanha. Revela cantos hoje pouco visitados do drama, como
o bombardeio da Sérvia, a terrível batalha de Tannenberg e o incidente dos
navios Goeben e Breslau – do qual a mãe da autora participou de forma menor.
O enredo
converge para a chamada batalha do Marne – um rio próximo de Paris, afluente do
Sena, perto do qual os soldados alemães tiveram de recuar. Estavam exaustos de
virem a pé desde seu país. Segundo a autora, isso não determinou o resultado da
guerra - mas determinou que não seria rápida.
Trata-se de
um livro que já passou pelo teste do tempo e constitui uma agradável e rigorosa
introdução para quem quer saber sobre o grande conflito.
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