Românticos e Inconformados
ROSA, Peter de. Rebels: the Irish rising of 1916. Nova Iorque: Fawcett
Books, 1992. 536p.
- Se não nos revoltarmos, será uma desgraça para
nossa geração.
Essa frase repetida de várias formas e por várias
pessoas ao longo do livro sintetiza a trama, e o drama. A Inglaterra dominava
uma grossa fatia do mundo. A mais antiga das suas colônias quedava ali
pertinho, a Irlanda. Um grupo de homens e algumas mulheres resolveu se revoltar
pela independência.
Escolheram o pior período. Uma guerra entre
Inglaterra e Alemanha havia estourado em 1914 e rebeliões em período de guerra
trazem consequências pouco agradáveis se falharem. Escolheram o domingo da
Ressurreição de 1916. Por tal motivo ele é conhecido como o Levante da Páscoa.
Depois de seu sucesso Vigários de Cristo o veterano teólogo Peter de Rosa se aventura com
o romance histórico e apresenta uma galeria de personagens, todos reais na vida
mas romanescos nas atitudes. O professor Patrick Pearse, o merceeiro Thomas
Clarke (facilmente reconhecível por seus óculos redondos), o marxista James
Connolly, o diplomata Roger Casement, todos muito cedo perceberam que não tinham
gente nem rifles suficientes para expulsar o poderoso Império Britânico. Nem mesmo o governo alemão os levou muito a
sério. Ainda assim fizeram a revolta – com a confiança de que algum dia outros
seriam bem-sucedidos mas que, sem seu aparente fracasso, esses outros nunca existiriam.
O romance descreve com detalhes talvez até mesmo
excessivos desde os primeiros transportes de fuzis contrabandeados até a
confusa formação de milícias armadas dentro do território irlandês – milícias estas
que o governo britânico preferia deixar quietas, por medo exatamente de um
levante.
O tom quixotesco pervade todo o episódio. O governo britânico
havia prometido um estatuto de autonomia para a Irlanda. A maioria dos políticos
irlandeses aderiu alegremente tal promessa e bradava para o povo festejar e
esperar. As próprias milícias armadas acreditaram – exceto uma minoria que
disse não. Estes vieram a ser conhecido como Sinn Feiners, algo como o pleonasmo Nós sozinhos. Junto uma pletora de pequenas organizações radicais no
dia marcado tomaram o Correio e alguns prédios da capital Dublin.
Depois do esperável resultado os ingleses deceparam a
liderança irlandesa – foram todos fuzilados com exceção de um comandante de
batalhão, Eamon De Valera, poupado por ter dupla cidadania – era também estadunidense.
Por causa isso ele ascendeu para a liderança do movimento, junto com um
militante de base, então pouco importante, um garoto de nome Michael Collins.
Este resolveu adotar táticas sujas de
guerrilha – que deram certo. A maior parte do país ficou independente. Foi o
fundador do Irish Republican Army, que
décadas depois apareceria muito na mídia sob a sua sigla IRA.
O livro mostra esses homens como convictos, românticos,
comuns e ao mesmo tempo quase incompreensíveis na sua obsessão em fazer algo
que sabiam que ia dar errado. E serve como uma introdução à história de um país
distante mas que, em seus dramas humanos, pode se revelar próximo.
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