Mil Anos de Poder
Paulo Avelino
RADY, Martyn. Os Habsburgos: ascensão e queda de uma potência
global. Lisboa, Portugal: Círculo de Leitores, 2021. 532p. Tradução Diogo
Marques.
Maria Teresa tinha um problema,
aliás vários. Era Rainha da Hungria e da Boêmia, Arquiduquesa da Áustria e de
quebra Imperatriz do Sacro Império Romano-Germânico, mas mesmo os grandes têm
problemas. Um deles era o persistente, diligente e chato Rei da Prússia, Frederico
II O Grande, que passou metade da vida a querer tomar as possessões da
vizinha, por política ou guerra. O outro era como manter o seu sobrenome. Era
uma Habsburgo, casou-se com um certo Francisco Estêvão, Duque de Lorena, alguém
com muito menor pedigree e capital, político e financeiro. Ainda assim,
por ser homem, ele é que normalmente deveria passar seu sobrenome para ela. A
solução foi simples: ele compôs o sobrenome com o da esposa. Passou a se chamar
Francisco Estêvão de Habsburgo-Lorena.
Décadas depois a bisneta de Maria
Teresa casou-se com um príncipe de Portugal, que no momento morava em um certo
Brasil. E foi anunciada como Maria Leopoldina de Habsburgo-Lorena, esposa de
Pedro I.
A poderosa família austríaca dos Habsburgos
tem a ver com o Brasil, assim como tem a ver com quase tudo na face do planeta,
desde as Filipinas até os países hispanos nossos vizinhos, a Bélgica, Hungria,
Itália, Holanda e muitos outros países. Este recente livro do professor inglês e
conhecedor da cultura húngara Martyn Rady traça um panorama enciclopédico da trajetória
da família, desde quando por volta do ano 1000 eram pequenos senhores de terra na
região entre as atuais Suíça, Alemanha e Áustria, até 1918, quando o último
deles perdeu o poder, defenestrado após a derrota na Primeira Guerra Mundial.
Há histórias ótimas, como a da
origem do sobrenome da primeira Imperatriz do Brasil. Também a da vampiromania
que assolou a Europa em meados do século XVIII, com o respeitável testemunho de
Voltaire, que em afirmou que em Paris nada se falava tanto quanto de vampiros –
como eram caçados, seus corações arrancados e seus corpos queimados. Ou com a relação
de Mozart com a cultura musical da época do Imperador José II – que não era um
parvo como o retratou o filme Amadeus, mas um reformador tanto ambicioso
quanto implacável.
Ambição aliás nunca falou nos Habsburgos,
nobres que nasciam com dinheiro e terras e sempre pareciam querer mais. Destacam-se
algumas personalidades, como o inescrupuloso Rodolfo I, o pioneiro da família a
ocupar um trono real. Ou Carlos V, a quem uma sucessão de casamentos espertos e
oportunos falecimentos de parentes concedeu um Império que se estendia por todo
o globo. E familiares por afinidade, como a belíssima Duquesa Elizabeth da Baviera,
a Sissi dos filmes e atração-mor do turismo hoje em Viena. Fechando com o piedoso
Carlos I, beatificado pela Igreja, cuja fé foi insuficiente para manter o
Império.
O livro de Martyn Rady serve tanto
como uma visão enciclopédica da história europeia dos últimos mil anos como uma
leitura de diletantismo a alimentar boas conversas com anedotas históricas.
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