segunda-feira, 19 de agosto de 2013

23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo, de Ha-Joon Chang

Detonando ideológicas muralhas


Paulo Avelino


CHANG, Ha-Joon. 23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo. São Paulo: Cultrix, 2013. 368p.


Os ricos são mais empreendedores que os pobres; o governo é ineficiente e a empresa privada é eficiente; vivemos em uma era pós-industrial – este livro se propõe a detonar essas afirmações e assemelhadas. Que, de tão repetidas, passam por revelações indiscutíveis.

O professor coreano radicado nos EUA Ha-Joon Chang escolheu 23 mantras sobre a economia – e analisou um por um de um ponto de vista crítico. O resultado foi um livro próprio até para o público não especializado. Cada capítulo começa com uma afirmação que contraria as que são diuturnamente marteladas por comentaristas televisivos, polemistas disfarçados de repórteres, blogueiros e pelo colega da mesa do lado. Segue uma contra-afirmação do autor. Depois vêm as evidências sustentando sua tese – geralmente históricas, na maior parte de história recente.

Embora obra leve, o autor se propôs a empurrar muralhas com ela. Poucos estão dispostos a admitir por exemplo que a gestão das empresas não deve estar voltada para o interesse dos donos (cap. 2) ou que os Estados Unidos não têm o padrão de vida mais elevado do mundo (cap. 10). A obra enfrenta o problema de sua abrangência – espalha-se por áreas diversas. Talvez por reconhecer tal problema o autor sugere chaves de leitura - de forma a adequar a obra aos interesses do leitor.

Certas afirmações atingem com a suavidade de uma marreta: a educação, por exemplo, não é a solução. Essa velha crença brasileira desafortunadamente não se alicerça na experiência. Muito da educação simplesmente não tem efeito no aumento da produtividade. A Coreia do Sul começou seu extraordinário crescimento com níveis de educação ainda sofríveis. A educação – diz o autor – deve ser buscada porque enriquece nossas vidas. Não porque garanta desenvolvimento para país nenhum.

A lenda de que o mundo cresceu mais desde os anos 1980, desde que os Estados diminuíram de tamanho, não passa disso: lenda. As estatísticas provam: o mundo crescia mais no tempo de uma economia mais regulamentada.

Os mercados financeiros devem ser menos, e não mais eficientes – é outro ponto do autor. Deve ser regulamentado, assim como a indústria farmacêutica o é. O cérebro humano é capaz de realizar escolhas bem, desde que estas sejam poucas. O Estado faz isso: restringe as escolhas e ao fazê-lo aumenta a possibilidade de escolhas melhores.

Certos pontos levantados pelo autor beiram o psicológico ou filosófico, quando afirma que bastante do que as pessoas fazem não é por egoísmo, ou que muito do que é considerado natural é na verdade fruto de decisões políticas. Nesses momentos a obra aponta para a necessidade de um estudo mais aprofundado. Cada capítulo poderia gerar um livro ou uma biblioteca.

As pretensas verdades combatidas nesta obra invadem tanto as mentes que talvez uma forma de combatê-las seja pela leveza. Esta a escolha do autor, e talvez uma boa escolha.

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