Detonando ideológicas muralhas
Paulo Avelino
CHANG, Ha-Joon. 23 coisas que não nos contaram sobre o capitalismo.
São Paulo: Cultrix, 2013. 368p.
Os ricos são mais empreendedores que os pobres; o governo é ineficiente
e a empresa privada é eficiente; vivemos em uma era pós-industrial – este
livro se propõe a detonar essas afirmações e assemelhadas. Que, de tão
repetidas, passam por revelações indiscutíveis.
O professor coreano radicado nos
EUA Ha-Joon Chang escolheu 23 mantras sobre a economia – e analisou um por um
de um ponto de vista crítico. O resultado foi um livro próprio até para o
público não especializado. Cada capítulo começa com uma afirmação que contraria
as que são diuturnamente marteladas por comentaristas televisivos, polemistas
disfarçados de repórteres, blogueiros e pelo colega da mesa do lado. Segue uma
contra-afirmação do autor. Depois vêm as evidências sustentando sua tese –
geralmente históricas, na maior parte de história recente.
Embora obra leve, o autor se
propôs a empurrar muralhas com ela. Poucos estão dispostos a admitir por
exemplo que a gestão das empresas não deve
estar voltada para o interesse dos donos (cap. 2) ou que os Estados Unidos não têm o padrão de vida mais elevado do
mundo (cap. 10). A obra enfrenta o problema de sua abrangência – espalha-se por
áreas diversas. Talvez por reconhecer tal problema o autor sugere chaves de
leitura - de forma a adequar a obra aos interesses do leitor.
Certas afirmações atingem com a
suavidade de uma marreta: a educação, por exemplo, não é a solução. Essa velha crença brasileira desafortunadamente não
se alicerça na experiência. Muito da educação simplesmente não tem efeito no
aumento da produtividade. A Coreia do Sul começou seu extraordinário
crescimento com níveis de educação ainda sofríveis. A educação – diz o autor –
deve ser buscada porque enriquece nossas vidas. Não porque garanta
desenvolvimento para país nenhum.
A lenda de que o mundo cresceu
mais desde os anos 1980, desde que os Estados diminuíram de tamanho, não passa
disso: lenda. As estatísticas provam: o mundo crescia mais no tempo de uma economia mais regulamentada.
Os mercados financeiros devem ser
menos, e não mais eficientes – é
outro ponto do autor. Deve ser regulamentado, assim como a indústria
farmacêutica o é. O cérebro humano é capaz de realizar escolhas bem, desde que
estas sejam poucas. O Estado faz isso: restringe as escolhas e ao fazê-lo
aumenta a possibilidade de escolhas melhores.
Certos pontos levantados pelo
autor beiram o psicológico ou filosófico, quando afirma que bastante do que as
pessoas fazem não é por egoísmo, ou que muito do que é considerado natural é na
verdade fruto de decisões políticas. Nesses momentos a obra aponta para a
necessidade de um estudo mais aprofundado. Cada capítulo poderia gerar um livro
ou uma biblioteca.
As pretensas verdades combatidas nesta obra invadem tanto as mentes que talvez uma forma de combatê-las seja pela leveza. Esta a escolha do autor, e talvez uma boa escolha.
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