De civilizações, técnicas e desafios
COHEN, Daniel. La
Prospérité du Vice: une introduction (inquiète) a l´économie. Paris:
Éditions Albin Michel, 2009. 283p.
Porque o Ocidente ? O mundo se ocidentaliza mas a supremacia poderia
muito bem ter cabido à China ou à Índia, ou aos reinos muçulmanos ou aos Incas.
Tal pergunta serve de ponto de partida para o livro.
Com tal assunto tão extenso, o
autor decidiu focar períodos específicos. O primeiro destes explica o próprio
título. A História de Juliete ou as
Prosperidades do Vício se trata de uma obra do arquicélebre Marques de
Sade, com a temática que se pode imaginar. O professor Cohen faz uma ligação
com a lei de Malthus. Comprime a história econômica do mundo desde o princípio
até o século XVIII sob a lei férrea dos rendimentos decrescentes da
agricultura, comparados com o crescimento em exponencial do número de pessoas.
O mecanismo era simples e triturante: a prosperidade econômica ensejava o
aumento da população. A maior demanda de alimentos ocasionava a ocupação de
terras piores, a inovação tecnológica produzia cada vez menos. A menor disponibilidade
de alimentos per capita causava a
fome e a população diminuía.
A indústria rompe esta lógica da
indigência. Os inovações do século XVIII puxando uma à outra criam uma dinâmica
de progresso que evita o gargalo da lei de rendimentos decrescentes mas cria
uma ilusão perigosa: a da possibilidade (ou mesmo da necessidade) do
crescimento ilimitado.
Este vício se evidencia na
resposta que é dada à grande crise do sistema a partir de 1929. O sistema
keynesiano e a amplificação da previdência social ocasionaram (para os países
ricos ao menos) trinta anos de prosperidade e segurança a partir do fim da
Segunda Guerra. Tal sistema entrou em xeque com a crise do petróleo dos setenta
porque era um sistema intoxicado em crescimento – tudo estava bem com a
economia sempre maior. Quando isso não acontece, o sistema trava.
O constrangimento dado pela
possibilidade (ou pela contingência) do não crescimento puxa o fio da última
parte do livro, que se refere aos três grandes problemas da atualidade: os
recursos ecológicos limitados, o craque financeiro e o capitalismo imaterial, e
de quebra o ressurgimento da China e da Índia.
O professor Daniel Cohen traça um
painel amplíssimo da economia mundial desde o neolítico. Quis escrever um livro
de leitura leve, para não-especialistas, e sem estatísticas: em todo o livro
não há um só gráfico ou quadro. Tem o mérito de evitar se constituir em uma
torcida pró-liberalismo, como quase todos os livros de economia hoje o são. Com
os propósitos de seu autor, a obra ganha em prazer na leitura e perde em rigor.
No entanto, na saraivada de opiniões desencontradas sobre o assunto, este livro
pode servir como algum guia que sintetize o que aguarda o mundo no futuro
próximo.
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