terça-feira, 27 de agosto de 2013

Pequeno tratado do decrescimento sereno, de Serge Latouche

Do não-crescer e sua necessidade

LATOUCHE, Serge. Pequeno tratado do decrescimento sereno. São Paulo: WMF/Martins Fontes, 2009. 170p.

O crescimento viciou a sociedade. Considera-se que ele constitui a única forma de gerar trabalho para os jovens, aposentadoria para os velhos, assistência médica para os doentes, educação para todos e mais portos e linhas telefônicas que por sua vez serão usados para impulsionar mais crescimento. O qual é alavancado pelo consumo cada vez maior e este por sua vez se apoia no tripé publicidade - crédito – obsolescência programada.

Como todo vício, necessita para ser combatido de uma estratégia gradual e radical. Esta é a ideia do professor francês Serge Latouche, que elaborou este livro como um manual para os militantes desta ideia e para os que querem conhecê-la.

O autor argumenta que o crescimento sem limites desafia qualquer pretensão ao bom senso. O planeta é único, e são falaciosas as esperanças de que a tecnologia possa expandir indefinidamente a possibilidade de crescer. Mais do que isso, o modo de vida fundado no consumo esgarça os fios do tecido social. Os Trinta Gloriosos foram os anos que medeiam entre o final da Segunda Guerra e o Crise do Petróleo (1945-1975), em que população pôde aumentar muito seu consumo, particularmente de bens duráveis, e em que a previdência social ampliou sua rede de assistência às pessoas. Essa prosperidade gerou uma massa intoxicada em bens, desligada da vida política e facilmente manipulada por complexos midiáticos (o que ele exemplifica com o fenômeno Berlusconi).

Não se trata meramente de não crescer. Na sociedade atual o parar de crescer causaria uma catástrofe de desemprego e corte da assistência aos mais fracos. É necessário mudar a mentalidade – criar uma sociedade de a-crescimento. Para realizá-la o autor propõe alguns passos entre os quais se destacam o Revalorizar e o Relocalizar. Revalorizar dimensões não-econômicas da vida como a amizade, a contemplação e o não-fazer-nada. Relocalizar as decisões políticas e econômicas em comunidades pequenas. Isso implicaria a forte redução ou supressão do que o autor denomina de necessidades inúteis, como publicidade, turismo de massa e transportes de produtos vindos de longe e que poderiam ser produzidos localmente.  Uma economia mais local também implicaria a adoção de moedas locais.

Em épocas de insatisfação difusa as ideias do autor seduzem e o mínimo que se pode dizer delas é que são oportunas. São necessárias saídas para o mundo e o Decrescimento pode inspirar algumas. Embora se refira constantemente à periferia, o autor reconhece ser um francês escrevendo de um país central. Esta a limitação maior da obra. A crítica que ele faz à sociedade atual no entanto é válida e pode enriquecer qualquer leitor interessado em saídas ao impasse do crescimento.

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