Do não-crescer e sua
necessidade
LATOUCHE, Serge. Pequeno tratado do decrescimento sereno. São
Paulo: WMF/Martins Fontes, 2009. 170p.
O crescimento viciou a sociedade.
Considera-se que ele constitui a única forma de gerar trabalho para os jovens, aposentadoria
para os velhos, assistência médica para os doentes, educação para todos e mais
portos e linhas telefônicas que por sua vez serão usados para impulsionar mais
crescimento. O qual é alavancado pelo consumo cada vez maior e este por sua vez
se apoia no tripé publicidade - crédito – obsolescência programada.
Como todo vício, necessita para
ser combatido de uma estratégia gradual e radical. Esta é a ideia do professor
francês Serge Latouche, que elaborou este livro como um manual para os
militantes desta ideia e para os que querem conhecê-la.
O autor argumenta que o
crescimento sem limites desafia qualquer pretensão ao bom senso. O planeta é
único, e são falaciosas as esperanças de que a tecnologia possa expandir
indefinidamente a possibilidade de crescer. Mais do que isso, o modo de vida
fundado no consumo esgarça os fios do tecido social. Os Trinta Gloriosos foram os anos que medeiam entre o final da Segunda
Guerra e o Crise do Petróleo (1945-1975), em que população pôde aumentar muito
seu consumo, particularmente de bens duráveis, e em que a previdência social
ampliou sua rede de assistência às pessoas. Essa prosperidade gerou uma massa intoxicada
em bens, desligada da vida política e facilmente manipulada por complexos
midiáticos (o que ele exemplifica com o fenômeno Berlusconi).
Não se trata meramente de não
crescer. Na sociedade atual o parar de crescer causaria uma catástrofe de desemprego
e corte da assistência aos mais fracos. É necessário mudar a mentalidade –
criar uma sociedade de a-crescimento. Para realizá-la o autor propõe alguns
passos entre os quais se destacam o Revalorizar
e o Relocalizar. Revalorizar
dimensões não-econômicas da vida como a amizade, a contemplação e o não-fazer-nada.
Relocalizar as decisões políticas e econômicas em comunidades pequenas. Isso
implicaria a forte redução ou supressão do que o autor denomina de necessidades
inúteis, como publicidade, turismo de massa e transportes de produtos vindos de
longe e que poderiam ser produzidos localmente. Uma economia mais local também implicaria a adoção
de moedas locais.
Em épocas de insatisfação difusa
as ideias do autor seduzem e o mínimo que se pode dizer delas é que são
oportunas. São necessárias saídas para o mundo e o Decrescimento pode inspirar
algumas. Embora se refira constantemente à periferia, o autor reconhece ser um
francês escrevendo de um país central. Esta a limitação maior da obra. A
crítica que ele faz à sociedade atual no entanto é válida e pode enriquecer
qualquer leitor interessado em saídas ao impasse do crescimento.
Nenhum comentário:
Postar um comentário