A Terra importa
DIAMOND, Jared. Colapso – por que umas sociedades perduram e
outras desaparecem. 6ª ed. Barcelona: Delbolsillo, 2012. 746p.
Certa sociedade não existe mais:
viajantes do século XVIII encontraram poucos habitantes meio famintos numa
terra sem árvores dignas do nome, e que de vez em quando se dedicavam à (triste)
incumbência de destruir os monumentos da civilização de outrora. Que não eram
de pouca importância – ainda hoje constituem um cartão postal dos mais
conhecidos do planeta.
O estilo do professor Jared
Diamond explica não pequena parte de seu sucesso. Esse veterano biólogo e
ornitologista escreve colocando-se ao nível do leitor. No seu livro não faltam impressões
de viagem de mochileiro – como quando diz que caminhar sobre certa rocha
cortante nos atóis do Pacífico (como ele o fez) é sentir-se na sucursal do
Inferno. O linguajar pesado dos especialistas e sua aparente carência de
incertezas é posto de lado. Em mais este livro Jared se pergunta por que algumas
sociedades deixam de existir enquanto outras perduram.
Um aluno seu certa vez lhe perguntou
o que pensou o habitante da ilha de Páscoa quando derrubou a última árvore
grande. Esta é a sociedade decadente que destruía seus monumentos. Jared responde
que provavelmente não pensou nada – era uma palmeirinha tão insignificante que a
memória das grandes árvores (tão necessárias para a pesca) já se tinha esvaído.
Permeia todo o livro a noção de ecocídio - a destruição deliberada por uma
sociedade humana dos meios necessários para sua sobrevivência.
O autor recusa que só a
deterioração ambiental seja a responsável pelo fim de uma sociedade. Enumera
cinco fatores: dano ambiental, mudança climática, existência de vizinhos
hostis, existência de sócios comerciais amistosos – esses quatro podem ou não
ser relevantes. O quinto fator sempre o é: a resposta que a sociedade dá a seus
problemas de meio ambiente.
O autor percorre épocas e locais
de quase todo o mundo em busca de exemplos de sociedades que não sobreviveram –
e de outras que o fizeram. O caso da Ilha de Páscoa assusta: uma ilha isolada
no meio do oceano, tendo que viver apenas de seus meios e com uma sociedade suficientemente
estúpida para gastar sua energia em guerras e luxos para os ricos e destruir o
meio ambiente do qual dependia. A semelhança com certo planeta isolado no meio
do espaço não deixa de inquietar.
A colônia norueguesa na
Groenlândia, as ilhas Henderson e Pitcairn no Pacífico, os Maias na América
Central, todos eles viveram o mesmo ciclo de desflorestamento, mudança
ambiental, falta de adaptação e subsequente desparecimento enquanto sociedade. Regiões
atuais como o estado de Montana nos Estados Unidos sofrem também de sérios
problemas na sua base ecológica. Por outro lado, islandeses, dominicanos e
japoneses souberam dar respostas adequadas.
A conclusão é sóbria: as
sociedades devem se adaptar – tomar medidas mitigadoras e conter o luxo dos
seus ricos. Por necessidade de sobrevivência.